sábado, 18 de julho de 2009

Epifania

Tive epifanias.Parece que finalmente comecei a viver.Após um tempo como zumbi,retomei as rédeas de tudo.Não o tempo todo estava morto, apenas as últimas semanas.É como se tudo que eu tivesse buscado houvesse desaparecido.A vida é uma eterna busca.Quando se acha parece que tudo perde o sentido,e aí se busca de novo.
Agora achei o que buscar.Nunca fui muito de ficar mudando esse buscar,pois todos mudavam sempre.Meu buscar era insistir na mesma busca,sugar o máximo do suco da vida do que me cercava.Para falar a verdade,acho que é a primeira vez que busco outra coisa.
Quero achar-me completo.Sentir por cada vez mais tempo o que chamo de grandeza,que é quando se sente a graça, sente-se a capacidade, o poder, sente-se parte do mundo, da vida, das pedras, da terra, das plantas, das pessoas.Já não sei se quero uma compania,a que eu mais desejei já se foi, e de uma forma estranha que ainda tento entender.Um abraço sincero de uma desconhecida conhecida numa fila do teatro, pareceu-me mais real que muita coisa nessas semanas.A vida é um sonho.Minha vida é um sonho.O real nunca é tão real quanto aqui dentro da minha cabeça.Um sonho sonhado sozinho, é apenas um sonho;um sonho sonhado junto, é realidade.
Nunca senti tanta fome por escrever,parece que realmente acordei agora,depois de muito tempo em transe.Escrever me traz a sensação de grandeza,ou do que chamo de grandeza.Descobri porque escrevo.No começo usava palavras de outros,repitidas,para tentar concretizara vontade de sentir alguma coisa.Cartas para algumas garotas,declarações.Coisas que não sei se eram a pura verdade.(Eu tinha pouca idade,uns 13,14 anos,achava-me vazio naquela época.Não gostava daquilo de todos os garotos gostarem da mesma menina,o que seria das outras?Por isso devo ter me rebelado primeiro.Nem por meus pais,não tinha isso que hoje sei que são sentimentos.Era oco.Talvez houvesse amor e eu não sabia reconhecer...Mas sentia-me forçado a demonstrar, tentar sentir algo.E agora eu sinto!)Escrevo, hoje, porque preciso.Sinto-me vazio quando não escrevo, não boto para fora a loucura diária que me impreguina.Um fantasma que nada faz.
Escrever é minha forma de existir, e só agora percebo.Escrevo para mim, para melhor entender o mundo, e me comunicar com ele.Acho que escrevendo posso ajudar alguém a se entender, e aconselho e já aconselhei a escreverem.Escrevo para você que me lê, para qualquer um que queira ler.Escrevo como quem quer mudar o mundo, como quem ainda tem esperança.Confesso ter pretensões como escritor, quero ser lido.Se for por alguém já está bom.Alguém que converse e comunique, que me acrescente o que me falta: Sal,açúcar,azeite?Quero ser grande.
Achei que pelo amor conseguiria ser grande.O amor já não me basta.Quero amar-me de uma vez.Engolir-me e saciar o outro ser que vive em mim.Minha cabeça vai mais rápida que a velocidade do som.Por isso me atrapalho.Minha cabeça é devagar como uma lesma,por isso me atrapalho.Sou tudo ou nada.O meio não me basta por muito tempo.Ardente, constante, presente.Sou pai, irmão, marido, quero ser tudo ao mesmo tempo.Por isso me atrapalho.Já cansei de trapalhadas.
Tenho sede de amar.Depois que descobri como é bom não ser vazio,tornei o amor uma meta.E não tenho medo de dizer.Descubro muitos tipos de amor.Disseram-me "eu te amo" para mim algumas vezes.Sem ter porquê,sem esperarem nada,do nada,do tudo,com medo,confessando,em segredo,do ventre,do filho,escutei o mundo dizer-me uma vez.Mas não amo a tudo e a todos.Eu odeio.Odiei-me, enraiveci-me, quis parar pelo meio.Já fiquei com raiva de mim mesmo por ter raiva,ou por amar demais,ou por não amar demais.
Vi uma estrela cadente ontem,pela segunda ou terceira vez na vida.Caiu praticamente em meu jardim,acho que a derrubei com o olhar perdido,de quem procura algo no céu.Um fogo muito intenso que se apagou rapidamente,só restando as poucas centelhas que também apagaram-se,um pouca mais devagar.Nem sabia o que pedir.Pedi o que tinha costume de pedir,e pensar que queria.Mas nem sei se quero mais.No fundo quero, mas quero esquecer que quero.Fazer o quê?Sou apenas humano,tirando meus momentos de grandeza.Busco no céu,às vezes,enxergar-me.Queria ser como elas.Queria poder estar acima do céu, solitário e radiante.
O vazio de antigamente me parece bom.Sou sozinho e sei que vou ser.Pelo menos não tenho mais medo.O futuro é um passado da frente.O agora que me prende.Busco a vida e na vida busco um motivo para ser, um sentimento, um sorriso.Adoro quando falam de meu sorriso, e de meus olhos.Parecem falar de minha alma.Sou o que me tenho, tenho o que sou.O que mais me impressiona é que nada é para sempre.O futuro está cheio de passado,mas o passado parece insistir em mudar.A vida é tão curta...Posso morrer amanhã.Onde estarei?Acho que longe, pelo menos o bastante para não lembrar daqui.A vida é bruta.Estou feliz e triste ao mesmo tempo.E lá vem o Destino mostrar-me mais uma vez,aqui em casa mesmo, que é tudo muito complicado.Achei que eu estava livre de tudo, que a grandeza me dominaria e levaria-me embora.Mas bem aqui, cai de novo.
Cansei...

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